A um ano da próxima eleição presidencial e no dia em que
se encerrou o prazo para a criação ou mudança de partidos pelos
candidatos, os contornos políticos para 2014 ganharam um elemento novo,
que pode acirrar a disputa. Com a decisão de filiar-se ao PSB após a
Justiça negar o registro de sua Rede Sustentabilidade, a ex-ministra
Marina Silva selou uma aliança inesperada com o presidente do partido e
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Com o apoio de Marina, Campos ganha um novo impulso para
uma provável disputa contra a presidente Dilma Rousseff e o senador
mineiro Aécio Neves (PSDB). As movimentações dos prováveis candidatos já
tiveram impacto em alianças partidárias nos Estados e na base do
governo federal, que perdeu o PSB de Campos.
Veja como os principais presidenciáveis têm se preparado para a disputa e os maiores desafios que enfrentam:
Dilma Rousseff (PT)
Depois de ver sua popularidade despencar durante a recente onda de protestos pelo Brasil, a presidente tem recuperado parte das perdas e se reafirmado como provável favorita na eleição. De acordo com a última pesquisa do Ibope, Dilma lidera a corrida com 35% das intenções de voto. Sua vantagem em relação à segunda colocada nas pesquisas, Marina Silva, que chegou a 8 pontos em julho, ampliou-se para 22 pontos.
A aliança entre Marina e Campos pode se configurar como
um obstáculo importante para os planos de reeleição da presidente.
Segundo analistas, Dilma vai precisar de um cenário sem imprevistos,
como uma nova onda de protestos que volte a sacudir o País, a
possibilidade de falhas graves na organização da Copa de 2014 ou
escândalos no governo, para manter uma dianteira confortável até a
eleição.
A presidente tem a seu favor a grande exposição do cargo
e deve dedicar boa parte do resto de seu mandato a divulgar ações de
seu governo voltados à educação ou à saúde. Um de seus focos principais
deverá ser o programa Mais Médicos, que busca sanar falta de
profissionais de saúde em periferias e no interior do Brasil.
Sua candidatura poderá se fortalecer ainda mais a partir
do início da campanha, já que, por causa da ampla coalizão governista,
ela terá mais tempo de propaganda na TV que qualquer rival.
Mas a movimentação de Marina em direção ao PSB pode
aumentar as chances de um segundo turno e a possibilidade de que os
demais candidatos se unam contra a presidente em um bloco opositor.
Eduardo Campos e Marina Silva (PSB e Rede Sustentabilidade)
O governador pernambucano Eduardo Campos - hoje com 4% das intenções de
voto, segundo o Ibope - já era apontado nos últimos anos como uma
importante novidade no cenário nacional e ganha um novo impulso com a
adesão de Marina Silva a seu partido.
Ao decidir se filiar ao PSB neste sábado, Marina se afastou dos planos
de se candidatar à Presidência, mas conseguiu mesmo assim reforçar sua
importância como um elemento crucial das eleições, mesmo depois de a
Justiça eleitoral recusar a criação da Rede Sustentabilidade.
Apesar de não confirmar a possibilidade de ser vice em
uma chapa liderada por Campos, a ex-ministra carrega consigo a força de
quem surgiu como segunda colocada na última pesquisa (16%) e ainda sente
os efeitos do bom desempenho na eleição de 2010, quando obteve 20
milhões de votos (quase 20% do total).
Resta saber, no entanto, como os eleitores de Marina
reagirão à sua decisão de se aliar ao PSB, depois das críticas ao atual
modelo partidário durante a campanha pela criação da Rede
Sustentabilidade.
Além de cacife político, o apoio do grupo de Marina
Silva pode dar a Campos mais tempo de propaganda eleitoral gratuita,
embora nesse quesito PT e PSDB ainda levem vantagem. Para ampliar o
tempo, há relatos de que o PSB também deve tentar se coligar com PDT,
PTB e PPS.
Para pavimentar a candidatura de Campos, o PSB entregou
nos últimos dias seus cargos no governo federal. A ruptura desagradou
dois caciques pessebistas, os irmãos Ciro e Cid Gomes, que resolveram
deixar o partido.
Por outro lado, a decisão abriu o caminho para que o PSB
negociasse alianças com partidos da oposição em disputas estaduais. Há
discussões para que o partido integre coligações rivais ao PT em 20
Estados, entre os quais São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Campos também negociou um pacto de não agressão com Aécio e, a exemplo
do mineiro, tem tentado conquistar o apoio de empresários. Mas o desafio
do pernambucano agora é conciliar as novas alianças com o pacto pelas
bandeiras de Marina, como um modelo de desenvolvimento menos predatório
ao meio ambiente.
Aécio Neves (PSDB)
Terceiro na última pesquisa do Ibope, com 11%, o senador
mineiro recebeu nos últimos dias uma notícia alentadora para suas
intenções de disputar a Presidência. O também tucano José Serra, que
ameaçava deixar a sigla para poder participar da disputa presidencial
outra vez, anunciou que ficará no PSDB.
A saída de Serra poderia enfraquecer o apoio a Aécio, ao
dividir eleitores tradicionais do PSDB. No entanto, segundo analistas, a
permanência de Serra não põe fim à desunião do PSDB nem garante que o
tucano paulista abrirá mão da disputa.
Há relatos de que, para ficar no PSDB, Serra teria
exigido de Aécio que prévias definam o candidato do partido. Caso a
votação no PSDB ocorresse hoje, Aécio - que recentemente se tornou
presidente nacional do PSDB - seria o favorito.
Mesmo que se torne o candidato tucano, porém, não está
claro se Aécio terá o apoio de Serra e do governador tucano Geraldo
Alckmin em São Paulo, maior colégio eleitoral do País.
Enquanto a disputa interna tucana se desenrola, Aécio
tem viajado pelo Brasil para tornar-se mais conhecido e costurar
alianças para 2014. A julgar por suas falas mais recentes, sua campanha
terá como base a defesa de um novo modelo econômico e o enxugamento da
máquina pública.
Aécio tem criticado o baixo crescimento econômico no governo Dilma, que
atribui ao esgotamento de um modelo que privilegiaria políticas
"assistencialistas", e defendido uma atitude mais amigável em relação a
investidores. Com a postura, também busca o apoio de grandes empresários
que estariam insatisfeitos com a presidente por julgá-la inflexível em
negociações com o setor.
Fonte: BBC BRASIL.com
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